É inegável que a pandemia do novo coronavírus mudou nossas vidas. Igualmente indubitável que a tecnologia está na linha de frente na resposta da humanidade à COVID-19. Mas como será nossa vida após a pandemia? Na avaliação de Eduardo Almeida, CEO no Brasil da Indra, uma das principais empresas globais de tecnologia e consultoria, mais integrada ao ambiente digital.
Essa análise deriva diretamente do impacto que o surto do novo coronavírus tem sobre as empresas, sejam elas pequenas ou grandes, as pessoas, relações de consumo, saúde e entre o Estado e o indivíduo. “As tecnologias , de uma forma muito ampla, assumiram um papel protagonista no atual cenário, facilitando melhores condições para que governos, empresas e a população possam lidar com os efeitos causados pelo coronavírus”, observa Almeida.
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“Além dos indiscutíveis avanços para combater o vírus e preservar a saúde de pessoas e empresas, as tecnologias estão gerando um grande impacto social. Estamos presenciando o momento em que as pessoas estão se empoderando dos benefícios que a tecnologia oferece para aquilo que, na minha opinião, é a sua verdadeira vocação”, analisa o CEO da Indra. Ele se refere à maneira como as pessoas se relacionam com seu entorno.
Nasce um novo mundo (digital)
Para Almeida, a área de T.I que já experimentava certa ebulição será ainda mais valorizada após a pandemia. “Com o coronavírus, chegaram a todos os países algumas necessidades básicas como o trabalho remoto, a necessidade de ampliar a presença digital para garantir clientes e interações entre as pessoas usando plataformas digitais, tanto para fins médicos quanto pessoais”.
Neste cenário, advoga o especialista, experimentaremos níveis mais profundos dessa transformação em um curto prazo com o desenvolvimento de inteligência artificial para acelerar processos repetitivos e o atendimento a clientes.
Falando em saúde mais especificamente, Almeida acredita que o Conselho Federal de Medicina e o ministério da Saúde serão estimulado a regulamentar melhor a telemedicina para impulsionar a prática, já bastante estabelecida na Europa. “Fora do Brasil, a Indra tem um conjunto completo de ferramentas que facilita a detecção de problemas de saúde, reduz deslocamentos e gastos com assistência médica, melhora a autonomia de idosos e permite que as dúvidas dos pacientes sejam resolvidas rapidamente”, observa o executivo.
Ele comenta, ainda, que embora traga desafios sem precedentes, a covid-19 deve impulsionar também outros projetos digitais para toda a sociedade, como o ensino a distância , e homeschooling, até então não regulamentado, mas que pode se tornar um modelo de educação permanente pós-cenário de coronavírus , no futuro.
O otimismo de Almeida se estende até mesmo ao serviço público. “Acreditamos que embora haja burocracia existem oportunidades para governos repensarem processos e entregarem mais e melhores serviços digitais à população”.
Para o CEO da Indra, a realidade que a pandemia descortina é a necessidade do setor público valorizar o papel social da tecnologia e acelerar a formulação de medidas que visem o bem comum – seja em saúde, mobilidade ou consumo. Dessa forma chegando ao patamar das “smart cities” que já se avolumam na Europa.
Senso de oportunidade
Almeida destaca, ainda, a grande oportunidade que a crise do coronavírus oferta para as startups. “Empresas pequenas e as grandes estão buscando formas de melhorar suas operações e diminuírem os custos. Neste contexto, haverá oportunidades para aqueles startups capazes de gerar valor agregado a outras empresas, uma vez que o cenário demanda soluções ágeis e inovadoras, características bastante presentes nas startups.
Ele observa ainda que, neste cenário, bons negócios de fusão e aquisições podem surgir, o que ativa a circulação econômica.
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Desnecessário dizer que os prognósticos são os melhores possíveis para o e-commerce. A covid-19 deixou clara a importância de atuar na área. “As empresas mais consolidadas nos processos de digitalização são as menos suscetíveis aos riscos econômicos e comerciais advindos da crise. Ou seja, serão menos afetadas pela crise aquelas mais inseridas na digitalização , que já haviam se antecipado na transição para os serviços digitais, como empresas de e-commerce e informação. Por outro lado, setores que têm os serviços baseados em mão-de-obra como automotivo, construção civil, serão mais suscetíveis aos danos que a pandemia deve provocar”.
De acordo com estimativas da Compre & Confie e ABComm, desde o primeiro caso de coronavírus no Brasil até dia 18 de março, categorias como Supermercados, Saúde e Beleza tiveram alta de 80%, 111% e 83% em relação ao mesmo período de 2019.
Esses números, pontua Almeida, explicitam que o consumidor está cada vez mais habituado a comprar pela interne. Cenário este que deve ser ainda mais robusto no pós-pandemia. Ele alerta, porém, que é preciso cautela por parte das empresas, “sempre investindo em tecnologia de ponta, como novas tecnologias de pagamento sem contato e na melhora do atendimento ao cliente, sem perder de vista a cibersegurança”.
Uma nova percepção de conexão
“Vemos que talvez o vírus esteja nos forçando a usar a internet como sempre deveria ser usada - para nos conectarmos, compartilhar informações e recursos, criar soluções coletivas para problemas urgentes”, teoriza Almeida, que crê estarmos chegando à “maturidade digital”.
Entusiasmado com as possibilidades que surgem nesse momento tão difícil, Eduardo Almeida finaliza: “É possível que esse boom no comportamento pró-social seja temporário, mas também é possível que, depois de passar anos usando tecnologias que pareciam nos separar, a crise do coronavírus esteja nos mostrando que a tecnologia ainda é capaz de nos unir”.