A temática familiar, o mistério como combustão da narrativa, a origem na literatura e a presença de Reese Witherspoon como produtora e estrela aproximam "Little Fires Everywhere", minissérie em oito episódios lançada recentemente no Prime Video , de "Big Little Lies", fenômeno de audiência e crítica da HBO que já teve duas temporadas.

Little Fires everywhere
Divulgação/Prime Video
Little Fires Everywhere é uma das grandes obras de 2020 na TV

A comparação, no entanto, é puramente superficial. Baseada no romance de 2017 de Celeste Nig, que também atua como produtora executiva da série, "Little Fires Everywhere" investiga a turbulenta relação entre feminilidade e maternidade, tudo costurado por um insidioso comentário a respeito do racismo estrutural na América e como o ressentimento pode ser uma força catalisadora de grande potencial destrutivo.

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Já "Big Little Lies" é mais modesta narrativamente e investe mais nas personagens, além de esgarçar a trama de mistério que ostenta, do que nas fissuras sociais do universo em elas que habitam. Nesse contexto, a minissérie estrelada por Kerry Washington e Reese Witherspoon é muito mais bem resolvida - ainda que também tenha seus pormenores.

Little Fires Everywhere
Divulgação/Prime Video
Cena de Little Fires Everywhere

Reese Witherspoon, um talento raro para viver mulheres de classe média alta conservadoras, é Elena Richardson. Uma jornalista que trabalha meio período, tem quatro filhos em diferentes fases da vida e um marido devotado (Joshua Jackson). Essa aparente normalidade é balançada com a chegada de Mia (Washington) e sua filha Pearl (Lexi Underwood).

Elena aluga uma casa para a artista a quem lhe parece desprovida de muitos recursos. Logo lhe oferece um emprego em sua casa e assim vai se costurando uma relação cheio de passos falsos e sentimentos reprimidos.

O mais interessante da proposta da série é que as duas protagonistas são mulheres difíceis, complexas, teimosas e ressentidas. A maneira como lidam com esses ressenimentos no curso da narrativa vai desnorteando a audiência rumo a um final que, se não provoca o impacto pretendido, deixa muitas reminiscências para refletir.

O programa se caracteriza por suas nuanças e sutilezas, mas não deixa de cometer excessos. O sexto episódio, um longo flashback destinado a contextualizar os dilemas emocionais das protagonistas, é totalmente desnecessário e as circunstâncias alinhadas para o fato que abre a série surgem pouco convincentes no episódio final. 

Ainda assim, "Little Fires Everywhere" é daqueles dramas robustos, muito bem escritos e com atores em ótima forma. É, também, o último trabalho da cineasta Lynn Shelton, que morreu no mês passado aos 54 anos. 

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Little Fires Everywhere

A minissérie é composta por oito episódios

por

Hulu

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