Ricardo Young , conselheiro consultivo da Synergia Socioambiental acredita que as tendências estão postas e as empresas devem incorporar em suas estratégias a justiça climática, sob pena de pagar um preço muito mais alto no futuro com o risco, inclusive, de se inviabilizarem
* Ricardo Young
SÃO PAULO , 20 de dezembro de 2022 /PRNewswire/ -- A COP27 , Conferência do Clima realizada em Sharm el-Sheikh em novembro, no Egito, sinalizou para o mercado a crescente importância da justiça climática e do seu conceito. Se os países emissores passam a ser responsáveis pelas perdas e danos dos países mais vulneráveis, o que dizer da responsabilidade das empresas em relação aos seus impactos na sociedade?
Não precisamos, enquanto empresas, esperar o desenlace político para validar o que é científico. As tendências estão postas. Se as empresas não as incorporarem em suas estratégias, pagarão um preço muito mais alto no futuro com o risco, inclusive, de se inviabilizarem.
A aprovação pela COP27 do fundo de perdas e danos foi comemorada no mundo inteiro como uma vitória significativa dos países em desenvolvimento, sobretudo as nações mais vulneráveis às mudanças climáticas. Apesar de ainda carecer de definições importantes, como as fontes e os volumes dos recursos, os critérios para acessá-los e a governança do mecanismo, a adoção do fundo sinaliza a importância que os temas associados à justiça climática ganharam na COP27 .
E este talvez tenha sido um dos principais avanços da COP27 . O conceito de perdas e danos é uma conquista que se arrasta há décadas e se tornou inevitável face às crescentes perdas dos países em desenvolvimento com os eventos climáticos extremos. As enchentes do Paquistão, o agravamento da situação insular de alguns países e repetidas tragédias deixam a nu que a conta da crise climática é alta e tem que ser paga pelos países de maior emissão.
Para o mercado, a responsabilidade das empresas em relação aos seus impactos na sociedade também é algo que veio para ficar. Há segmentos de mercado que apostam mais na eficácia da justiça climática do que em estratégias ESG [aspectos ambientais, sociais e de governança] voluntárias, pois ela aumenta a responsabilidade fiduciária dos conselhos e passará a integrar o compliance das organizações [conjunto de procedimentos com a finalidade de prevenir, detectar, mitigar e punir irregularidades, fraudes e corrupção numa empresa].
A agenda da justiça climática deverá atrair investimentos em economia verde no mundo em desenvolvimento. Os custos crescentes da crise climática aceleram soluções de mitigação e a viabilidade econômica de SBN (soluções baseadas na natureza). Há um novo mercado de oportunidades surgindo com a demanda exponencial da regeneração de serviços ambientais. O mercado de carbono é apenas a ponta do iceberg das oportunidades que virão. As questões hídrica e da biodiversidade vêm ganhando espaço, e em breve teremos a regulação e o pagamento por estes serviços também. De forma simples, a licença para se produzir destruindo o meio ambiente está com os dias contados, as restrições no campo legal aumentam. Portanto, além das oportunidades, haverá severos custos para externalidades climáticas e sociais.
Temos que considerar, sem atenuar, que o ano de 2022 foi marcado pela pós-pandemia, inflação global, o impacto da guerra da Ucrânia com a consequente escassez de alimentos e de energia. Foi a oportunidade para que o lobby do petróleo e gás conseguisse impedir a ampliação para todos os combustíveis fósseis da conquista obtida no Pacto Climático de Glasgow , adotado na COP26 , que prevê a redução gradual do uso do carvão mineral para a geração de energia. O melhor exemplo disso foi a inclusão no relatório final da COP27 do conceito de fontes energéticas de "baixa emissão ", o que é no mínimo um oximoro.
Não precisamos, enquanto empresas, esperar o desenlace político para validar o que é científico. As tendências estão postas e as empresas devem incorporar em suas estratégias a justiça climática, sob pena de pagar um preço muito mais alto no futuro com o risco, inclusive, de se inviabilizarem. Chegamos ao final de 2022 com um sentimento de otimismo e esperança em relação ao novo governo no país.
Acredito que, mais que promessas de campanha, nosso país tem os melhores especialistas em mudanças climáticas no governo de transição e é muito provável que seja instituída a Autoridade Climática, que irá atuar transversalmente em todos os ministérios para assegurar articulação e integração das políticas públicas para que as NDCs sejam atingidas. A expectativa é que possamos caminhar a passos largos para o fim do desmatamento ilegal e com políticas de incentivo para reflorestamento e regeneração além dos Pagamentos por Serviços Ambientais. Inclusive, a nova reforma fiscal a ser proposta pelo novo governo deve trazer estímulos fiscais concretos para a aceleração da agenda do clima.
- Ricardo Young é conselheiro consultivo da Synergia Socioambiental, presidente do Conselho Diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e ex-presidente do Instituto Ethos
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FONTE Synergia Socioambiental