“Esse livro eu elaborei em 4 anos e fui escrevendo, depurando, relendo. E aí surgiu a ideia de democratizar, para perder esse estigma de que Kindle seria uma literatura menor do que uma feita para o Jabuti, porque há esse preconceito do que seria alta literatura e uma comercial. Então, foi um livro elaborado, muito lido por críticos, e eu achei que deveria democratizar a minha literatura que já está sedimentada”, conta a autora Adriana Vieira Lomar.
Adriana foi a vencedora do 7º Prêmio Kindle de Literatura que premiou os finalistas na última segunda-feira (28) de fevereiro, no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. A autora publicou a sua obra “ Ébano sobre os canaviais ” através da plataforma Kindle, que está disponível no site da Amazon por apenas R$12,00.
O Prêmio Kindle de Literatura tem o objetivo de premiar obras literárias inéditas nas categorias de romance e ficção, escritas em portugês brasileiro, sendo permitido a participação de autores maiores de 18 anos ou menores representados por um responsável legal. O registro dos livros é feito pela “Ferramenta KDP”, a Kindle Direct Publishing .
Em Ébano sobre os canaviais, Adriana Vieira Lomar volta ao final do século XIX, quando José foge da peste em Portugal, e no Brasil se apaixona pela Ébano, alforriada e filha da escravizada Shakina. Apesar de ser livre, a sociedade recrimina a união do casal, e Ébano renuncia à maternidade do filho Zeca. Quase dois séculos depois, Maria Antonieta, uma personagem racista e com complexo de superioridade com relação aos seus antepassados, trilha uma jornada de autoconhecimento após se separar do marido e, assim, descobre sua verdadeira origem e coloca em xeque os seus preconceitos e comportamentos.
As obras finalistas que concorreram nesta sétima edição são: Ébano sobre os canaviais , por Adriana Vieira Lomar; Se tu me quisesse , por Jadna Alana; Onde pousam os urubus , por Andre L Braga; Meus sertões de você , por Alice Betânia Miranda; e O Piloto , por Walther Moreira Santos.
Os finalistas foram avaliados em critérios como criatividade, originalidade, qualidade de escrita e viabilidade comercial, passando por um júri especial composto pela escritora e vencedora do Prêmio Casa de las Américas, Ana Maria Gonçalves; o escritor, doutor em Teoria Literária e vencedor do Prêmio Jabuti, Jeferson Tenório; e a filósofa, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro, Sueli Carneiro.
A edição premiou a vencedora com R$ 50 mil – sendo um prêmio em dinheiro de R$ 40 mil e um adiantamento de direitos autorais de R$ 10 mil pelo contrato de publicação da versão impressa do livro, pelo selo José Olympio, além de receber a versão da obra em audio livro pela Audible.
“O prêmio se propõe muito a encontrar novos talentos da literatura brasileira. Eu escuto muitas pessoas que tinham uma história guardada em uma gaveta ou na cabeça e que nunca imaginaram transformar isso em livro. E ao descobrir o KDP e a facilidade da autopublicação, tomaram coragem, fizeram isso e acabaram encontrando o público delas, viraram autores e alçaram voos maiores” afirma o Gerente-Geral de livros da Amazon Brasil, Ricardo Perez, que estava presente no evento.
E é o caso de Andre L Braga, autor de “ Onde pousam os urubus ”, que contou que se não fosse a plataforma Kindle, não seria conhecido. A sua obra está disponível na Amazon por apenas R$14,90 e explora o cenário crescente da fome no Brasil, em uma história fictícia e crítica.
“Eu tive um livro meu, dos nove que lancei até hoje, publicado por uma editora tradicional e não teve resultado. Simplesmente não chegava em lugar nenhum. Tudo bem que veio a pandemia na mesma época, teve crise de livrarias e aí você não conseguia ir presencialmente comprar os livros. Então, isso pesou negativamente [nas vendas]. O que salvou foi o Kindle, porque o e-book você vai no site, baixa e pronto. Acredito que se não fosse a plataforma Kindle eu não seria conhecido”.
Além disso, em entrevista, a Editora Executiva do Grupo Editorial Record, Livia Vianna, também presente na premiação, apontou a importância da autopublicação na plataforma KDP para que autores de regiões pouco alcançadas pela Record e outras editoras tradicionais brasileiras, tenham visibilidade e contem suas histórias a partir das suas perspectivas.
“Os outros prêmios em geral são em uma prova impressa super confidencial. Esse prêmio não, este está ali para qualquer pessoa que for ler no Kindle, então quem está concorrendo já é um autor, já escolhe uma capa, um título, isso é uma diferenciação muito grande”, comenta Livia Vianna.
A autora de “ Se tu me quisesse ”, Jadna Alana, paraibana, se encaixa no caso da visibilidade regional proporcionada pela premiação. A sua obra está disponível por apenas R$12,99 no site da Amazon e conta a história de uma forasteira nordestina e um aprendiz de mágico.
“A Lila é uma personagem nordestina que tem asas de ferro, mas são enferrujadas e ela nunca alçou voo. Ela anda, desgasta os pés no caminhar do nordeste e o livro é sobre essa auto descoberta da Lila, de entender como vai desenferrujar essas asas com auxílio do Dino, que é um mágico nordestino. É um livro que tem regionalismo fantástico então ele mexe com o real, mas também mexe muito com o místico, que é minha origem como escritora, eu comecei com fantasia”, afirma Jadna.
Já em " Meus sertões de você ", escrito pela autora paulista Alice Betânia Miranda, segundo a descrição na Amazon, “conta a trajetória da rendeira Isabel, uma mulher simples que, após a morte da mãe, é atravessada por encontros inesperados, despedidas e outras formas de amar. Mas nesses novos caminhos ela se depara com uma outra busca ainda mais importante: sobre sua verdadeira origem e identidade". A obra está disponível no site por apenas R$19,90.
E por fim, em “ O Piloto ”, Walther Moreira Santos fala sobre a soberba, e segundo o próprio autor, em entrevista ao iG Mais: “é um livro ácido, porém extremamente divertido. Eu acho que o sentido da literatura não pode se perder só na literatura pipoca, mas acredito que é possível fazer uma boa literatura com entretenimento, escrever livros com filosofia de uma forma didática”.
No título, Moreira decidiu explorar as ferramentas do Kindle e aderir ao vocabulário da obra, palavras recuperadas do português de anos e até séculos atrás, não mais usuais, ao passo que explora um sentimento de conflito do ser humano.
Confira aqui todos os concorrentes do 7º Prêmio Kindle de Literatura e mergulhe nos mais diversos mundos que existem em um só país!
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